Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



sábado, 25 de dezembro de 2010

SINE DIE




Caros leitores,

Este Blog só poderá ser encontrado até aqui, temporariamente.

Aos amigos que sei que se preocupam, quero dizer que estou bem. Não estou cansada daqui, nem doente, nem triste, nem deprimida, nem sem tempo, nem sem computador e  nem com ele "dando pau", nem sem inspiração, nem sem vontade de escrever. Vocês merecem a minha satisfação, por isso estou aqui. Decidi fechar a casa, apenas isso.

O Blog ficará fechado sem previsão de volta, mas eu continuarei visitando os amigos, lendo textos, divertindo-me, chorando e sentindo junto.

Suzana/LILY



Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A VOCÊ

arquivo pessoal


A você que por aqui passou, ficou, me leu, me lê. A você que não me leu, fingiu não leu, comeu e bebeu minhas palavras... A você que por aqui passou e me amou, em silêncio, escandalosamente, ou não, a você que aqui veio para descansar, se encontrar, se perder de vez ou somente saber de mim, matar curiosidade. A você, que por você, eu nem quis ter globo em casa, girando, para que você se sentisse à vontade, não vigiado, não controlado. A você que eu dei asas, a você que preencheu minhas lacunas, equilibrou meu desequilíbrio tolo, a você que me deu palavras, que jorrou letras com aguardente em minhas entranhas, que me enlouqueceu e me curou. A você que conheci porque aqui passou, e que cumpriu nosso destino. A você que não me quis, mas retornou dezenas de vezes, a você que me quis, num misto de querer e desgosto, a você que acrescentou sorrisos na agenda da minha alma, que se deu sem medidas ou contou, um para você, um para mim. A você que nada escreveu, nada berrou, mas eu li e ouvi. A você que me busca feito amiga ou alguém de tantas vidas...

fique em paz, esteja em paz, sinta conforto na virada do ano.

Confesso, não gosto dessa época, para mim não haveria dia no mundo para se comemorar, principalmente por obrigação, mas sim, haveria, teria que haver comemoração diária. A festa para mim é hoje, a hora é agora. Não espero os convidados chegarem, como e bebo muitas horas antes, a partir do momento em que entrego meu espírito para a festa.

A você, meu carinho, meus votos de que o ano que está chegando seja o palco, a pista, o caminho para a tua melhor valsa, luta, dança.

                                                  Suzana C. Guimarães



Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

CONTO (mudo) DE NATAL


fotografia, por SCG


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

ESPERA!

fotografia, por SCG


                                                          Suzana Guimarães

Espera!
Agora eu prendi o cachorro, pode entrar
Espera!
Eu posso me sentar um pouco para lá, para caber você
Espera!
Entenda!
Não parta!

Pega esta jaqueta, e se você sentir frio?
Espera!
Eu não sabia que você podia voar no vento
Eu não sabia que você não é tudo o que eu invento
Espera, fique!
Eu não sabia que se perde na constância do caminho
Espera, um momento!
Está abafada, mas eu abro as janelas, puxo as cortinas
Espera, entenda!


Espera, espera, espera


Pensei que sua roupagem fosse de aguardos
Porque você sempre agua
Porque você sempre arde
Porque você nasceu dos partos


Espera... eu ainda posso lhe dizer que...
                   

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

CÂNDIDOS





O Tuca, do Blog Desinformação Seletiva, http://tucazamagna.blogspot.com/, apresentou-me a SIMONE GUIMARÃES, via e-mail, vídeos e músicas e pediu-me apoio na divulgação do CD Cândidos, novo trabalho dela.

Eu deveria fazer esta publicação no meu outro Blog, O MEDO DE SUZANA, porque, aqui, posto apenas ficção, o que não é o caso, mas sim BELÍSSIMA REALIDADE. Contudo, ainda não fechei a minha última publicação lá e não quero perder a oportunidade de propagar o trabalho dessa moça o mais rápido possível.


Por quê?


Porque eu adorei. Jamais faria algo que contrariasse os meus conceitos, os meus gostos, só por amizade, companheirismo. Recebi o material, li, ouvi e fiquei maravilhada.

Voz forte, limpa, aberta, afinada... Eu não entendo nada de música, só de bom gosto.


Mas há quem entenda, e ela já é conhecida e reconhecida no mundo artístico (Milton Nascimento, Francis Hime, Guinga, Toninho Horta, Novelli, Paulinho Jobim), e eu, humildemente, venho dizer que ouçam BAIÃO BARROCO, COM NOME DE AMOR, PASSAS POR MIM, dentre outras mais.


O Tuca enviou-me a imitação, gravada pela Simone Guimarães, da voz de Cora Coralina recitando "Estrela de Rua". Ao ouvir, chorei.


CÂNDIDOS é o sétimo CD dessa moça (também compositora) que canta composições de Issac Cândido, com letras de diversos poetas do Ceará/Brasil.


A turnê começou em Fortaleza, nos dias 4/12 e 5/12, já passados, porém, segue a agenda para quem queira e possa comparecer:


SÃO PAULO - 7/12 - 20h - Centro Cultural Rio Verde
RIBEIRÃO PRETO - 9/12 - 20h - Teatro Minaz
BRASÍLIA - 15/12 - 20h - Teatro dos Bancários
RIO DE JANEIRO - 21/12 e 22/12 - 20h - Teatro Solar



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O ABSURDO DA MINHA FÉ


fotografia, por SCG

Eu nunca soube que a minha fé beirava ao absurdo. Recordo-me o caminho há tanto tempo percorrido, num tempo vago onde o absurdo da crença não me deixou somar. Eu vinha por esse caminho, na mão, um prato de louça branca e eu tonta em minha andança não percebia o vaivém das esferas, ervilhas, feijão verde?, que escorregavam sem contudo lançarem-se para fora dele. Eu carregava o prato. Eu amassava as esferas tenras, esmagáveis e chorava. Ao longo do extenso caminho, chorei e o chamei. Fiquei tanto tempo chorando, chamando, que não percebi que estávamos próximos. No absurdo da minha fé, eu o vi passar, trajava calça e camiseta, uma imagem em preto e branco. No teu peito, vi janela aberta, olhei: vi tudo aquilo que eu sabia iria ver. A mim, por essa janela, também me vi, eu, a verdadeira, não-metamorfoseada. Vestida em vestido de saia godê, aquele mesmo de sempre, igual ao da minha mãe, igual ao da minha tia, igual às moças da época, anos 30.

Numa época perdida para trás, possivelmente essa absurda fé levou-me à prisão num poste, eu não preenchia à verdade ou modelo estabelecido. Numa época perdida para trás, eu vivi a me perder de ti. E a ti procurei e montei imagem bem próxima do que tu és. Peguei feição, formato, cor e texturas alheias, montei tudo na figura que tu apresentas agora para mim, ao passar por mim, na calçada, mãos no bolso, cabeça baixa, procurando achar, por acaso, brilhantes em anéis, quem sabe tão perdidos e solitários feito você.

Eu nunca soube que a minha fé beirava ao absurdo. Eu nunca soube o que veria por detrás daquela janela aberta. O absurdo dela empurrou minha cabeça para dentro de ti e quando dei por mim, havia entrado o corpo todo. Entrei e me sentei, exausta da andança, perplexa com o cenário, tantas vezes idealizado. Puxei para mim, o que mais próximo se encontrava, a saudade, um manto que me cobre, num inverno eterno.

                                                     por Suzana Guimarães (LILY)

 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MELHOR ASSIM

fotografia, por SCG

Perco-me em teus endereços. Perco-me em tua pressa, em tuas mãos afoitas, apressadas de mim. Toma tempo. Toma descanso. Sinta-me. Respira-me. Não se agite tanto, não se mova tanto, faz silêncio, recoste-se na borda desta história. Toma teu sagrado endereço, aquele que não alcanço. Aquele que não descubro. Aquele que você mesmo deixou largado e perdido dentro do bolso do casaco.

(Suzana C. Guimarães)


domingo, 21 de novembro de 2010

ÁGUA TROPICAL


fotografia, por SCG
                          
Você passa, eu olho e me molho
Você jamais entenderá
Você, filho do deserto
embalado em secos lençóis
Você entra, eu molho e me moldo
pois sou filha dos trópicos

das águas que anunciam de imediato
enxurrada deslizantes tempestades
pássaros voam baixo
pestes e divindades
torrenciais de água abaixo
atropelos... 
cargas que inundam cidades

Respingo em ti
minhas águas
de tão úmida e aguada 
Você passa, eu olho e aguardo
ponho-me de molho
Quero que você se umedeça em mim
Sinta cheiro de terra molhada

(Suzana Guimarães)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

UMA CASCA DE NOZ... (DE NÓS?)


PRESENTE QUE GANHEI DO MR. CHAPELEIRO

  

Obrigada, meu querido, por tão lindo presente, feito especialmente para mim!


(Já não toco mais o Atlântico, mas as palavras ficaram eternas em velhos arquivos)


UMA CASCA DE NOZ... (DE NÓS?)

Casca de noz
Vaga nas águas mornas
Do Atlântico
Sou eu
Vocês podem ver?
Não, sou singela demais
Pequena e trêmula embarcação
Que vaga à deriva
Sem nação
Você pode ver?
Não, apenas as crianças
Levadas pelas mãos
Tão puras e libertas
Elas me virão
Lá do alto
Do doce algodão


Veio a criança
De cachos loiros
Em seus dedos
Meu destino
Brincando de almirante
Me fazendo de amante
Revirou minha casquinha
Mudou minha rota
Naufragou minha frota


E fiquei ainda mais só


Casca de noz
A vagar
Livre por entre as águas
Perdida e achada
Ora em águas quentes
E salgadas
Ora em águas frias chuvadas
Que desaguam
Revirada
Pelos ventos
Tão mornos
Tão mansos
Saídos dos lábios da criança
Que ri
Se delicia
Me ama


E o oceano já não é assim tão só...

(Suzana Guimarães)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ELA, A ESPINGARDA, A VARA DE MARMELO E EU

ilustração, R. Meneghini
                                                                      

                                                Suzana C. Guimarães

                                                (#2 da saga)

Ela não me via. Acredito que fingia não me ver. Algo em mim e em meu irmão a irritava. Ir para aquela casa, lá dormir, lá comer, lá respirar pó e maldade era o purgatório, mas não tínhamos opção, meu irmão, minha mãe e eu. Eu andava pela casa evitando me encostar nas paredes, nas janelas, nas mesas, tinha medo. A menina, a filha da vizinha, passava boa parte do dia lá. Ela e a menina eram amigas e a menina aprendeu a pegar na xícara levantando o dedo mindinho. Na nossa mão direita, ela pegava, quando chegávamos, com as pontinhas do dedo, bem de leve, toque de barata. A menina e ela conversavam cochichando, eu ouvia ao longe, vozes sumidas, saindo dos quartos proibidos. Creio que ela ensinava a menina a fumar cigarro mentolado. Fino, elegante.

Eu não me lembro bem, a minha memória se perdeu naquela casa, antes que ela tombasse ao chão depois de uma devastadora enchente. Mas eu recordo sons, luzes, vozes e ventos silenciosos. Eu me recordo de que ela não tinha sangue de barata correndo nas veias, de barata apenas os cumprimentos flácidos. Dedos leves, frios, nojentos, tocando minha mão de leve. Eu recordo, Conceição lavando panelas na bica. Conceição esfregava as panelas de alumínio com areia branca, polia, esfregava, enxaguava, até que elas brilhassem feito espelho, enfileiradas na grama, por sobre as pedras ao redor, brilhando de doer os olhos.

Eu me recordo da espingarda e da vara de marmelo penduradas na parede. Qual parede? De qual cômodo? Não sei, não me lembro. Meu irmão deve se lembrar, ele é mais velho que eu. Recordo as palavras, o dedo pequeno apontando para o alto. A ameaça. Meu irmão e eu evitávamos então o contato, o estar próximo. Ameaças. Ameaças.

A menina, filha da vizinha, fazia candonga. A menina gostava de ver o circo pegar fogo. A menina gostava de ver o quanto era estimada por ela. Um dia, ela veio atrás de nós, com a vara de marmelo em punho. A vara que corrigiu toda a família. A vara que não quebrava nunca, mesmo após várias chibatadas. Nós corremos, eu não corria, eu voava atrás do meu irmão. Eu o tinha, eu faria o que ele fizesse. Subimos o morro do santuário da casa do purgatório, o quintal. Mangueiras, ameixeiras, flores e mais flores, uma mata que beirava a estrada, lá em cima onde passava o córrego. Conceição viu quando passamos correndo. Acendeu o cigarro de palha e olhou para o céu. As panelas já estavam quase secas pelo Sol.

Subimos o morro e ela atirou. Sim, a morte sempre me rondou. Poucos anos antes, eu, por muito pouco, parei de respirar, de medo, diante de um homem com uma faca na cintura, perguntando por meu pai, dizendo que ia matá-lo. Mas, eu era muito criança, e na minha cabeça, quem ia morrer naquela hora era eu. Lembro-me da minha boca seca, meus olhos parados, fixos, lembro-me da cara dele, vermelha, e do cheiro de aguardente que saía daquela boca suja. A morte mantém um relacionamento comigo que nunca entendi. Hoje, penso se é de respeito, falta do que fazer ou atração por mim, ânsia de estar em minha companhia, sem contudo desejar me levar. Naquele dia, lá no alto do morro, ela atirou com a espingarda. Eu nunca soube se a distância estava a favor dela ou não. Eu nunca soube se ela tinha pontaria. Eu sei que ela trocou a vara de marmelo pela espingarda. Hoje, questiono-me sobre o que sei sobre uma arma apontada para mim. Hoje, já mulher, pois o ato, aqueles atos, perpetuaram-se na minha memória, acomodaram-se em minhas entranhas, fazem eu pensar que tudo pode acontecer por muito pouco.

Onde estaria a menina, a filha da vizinha, naqueles minutos? Rindo pelos cantos sujos da casa? Eu nunca saberei. Eu sei que gritávamos para ela parar e Conceição passou várias vezes por ela, carregando as panelas para dentro de casa. Não me lembro de mais nada. Com certeza, a minha mãe deve ter aparecido, deveria estar na rua, fazendo compras, visitando alguma amiga. Com certeza, a mata sagrada foi mais forte que ela, nos protegeu com seus troncos largos, com seus mistérios, seus sons. Com certeza, a morte pitava um cigarrinho de palha, divertindo-se com a audácia da outra.

3 selos em 72 h e 1 verso

SELO LUA NOVA


Em 72 h, recebi três selos!

O primeiro selo recebi do Lufe, http://butecodolufe.blogspot.com/. O segundo chegou voando, veio da Lu, http://vivaagora.blogspot.com/. E, hoje, recebo outro, esse gato negro de olhos claros, azuis ou verdes, não importa, mirando-me, debaixo dessa Lua de bruxa em perfeito mistério com o negrume da noite (negrume dos meus desejos). Quem me enviou essa beleza foi a Sandra, http://dajaneladogardenplace.blogspot.com/.

A Sandra nada escreveu sobre regras a seguir. Então, farei uma única homenagem, a um menino de 11 anos que gosta de magias e de ler e escrever. Deve ser meu sangue (o pouco que seja) que corre naquelas veias, naquele coração. O primeiro livro que dei a ele, livro mesmo, com longas histórias infantis, lindamente ilustrado, foi há alguns anos. A mãe dele me disse que, toda noite, após o banho, ele pegava o livro no armário (escondido a sete chaves por causa do irmão menor), e, de pijama, recostado em almofadas, ao lado de luz de abajur, ele lia.

Que você, menino com nome de anjo, leia. Leia sempre (e escreva), pois o teu avô certa vez me disse: "podem lhe tirar tudo nesta vida, nunca a sua cultura. A sua cultura é sua, ninguém lhe toma e nunca pesará, é o teu maior bem."

Dedico então, a meu querido Mr. Chapeleiro, esse selo.

http://contosfabulas2.blogspot.com/


Numa segunda parte desta publicação deixo-lhes um verso:


Ele disse
esperarei sentado
causa mortis
Morreu mofado

(Suzana Guimarães)

domingo, 7 de novembro de 2010

A TI, PROXENETA DE SI



ilustração, R.Meneghini
 

Prostituídas palavras
que a mim diriges
Perfídia, ruínas de ti
que escambas
Recuso-te
Não te compro
em tuas palavras,
Tu vendes a ti
o que eu a ti diria?
Insignificantes insígnias
irritantes
ínfimas
moedas que me atiras
em tua cisma cafetina
perdes a minha estima
 
(LILY, por Suzana Guimarães)

sábado, 6 de novembro de 2010

PRÊMIO DARDOS

PRÊMIO DARDOS


  PRÊMIO DARDOS

O Prêmio Dardos é o reconhecimento aos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc, que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras. 


Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.


O Lufe, do Blog “BUTECO DO LUFE”, http://butecodolufe.blogspot.com, me honrou com essa homenagem.


O Prêmio Dardos tem as seguintes regras: exibir a imagem do Selo no Blog; revelar o link do Blog que me atribuiu o prêmio; escolher blogueiros para premiar.


Gostaria de esclarecer aos amigos que esta é a primeira vez que recebo um selinho e sigo as regras do jogo. Com enorme alegria, recebi vários selos, que estão devidamente postados próximos às mini fotos dos meus amigos em meus dois Blogs. Mas, ao quebrar as regras, não indiquei ninguém. Chegou a hora de eu homenagear alguns blogueiros, pois esta vida é avenida de mão dupla, não dá para ficar apenas recebendo.

Indico os seguintes Blogs:

1. CRÔNICAS DE UM BRASILEIRO, de Wolber Campos.
http://cronicasdeumbrasileiro.blogspot.com

Justificativa: Um brasileiro que acredita em seu país. Wolber é um dentista que percorre o Brasil que ninguém vê. É o "cara" que age, que faz. É a concretude. É a certeza onde houve dúvida, falta de coragem, falta de atitude em muitos, em mim, inclusive, de se propor à jornada que ficou apenas sonhada.


2. TEATRO DA VIDA, de Lara Amaral.
http://laramaral-teatrodavida.blogspot.com

Justificativa: Jornalista, atriz, essa moça sabe escrever, e escreve sobre temas diversos. Lutadora. Esforçada. Sensual. Caça as palavras e as doma com maestria.


3. BLUE, de Roberto Meneghini.
http://robertomeneghini.blogspot.com

Justificativa: Sou suspeita para falar dele, mas dou a ele o prêmio Dardos pela ilustração, a mais bela e poética que vi nos últimos tempos, VARAL DE FLORES, um encanto de se ver e sentir.


4. VIVA AGORA, de Lu.
http://vivaagora.blogspot.com

Justificativa: Jornalista, essa moça encanta, se faz presente em todos os cantos. Fotografa e escreve muito bem, com sentimento e destreza. Seus comentários nos Blogs dos amigos é pura poesia e força. Incentivo. Paixão.


5. A LUZ AFLORA ONDE NENHUM SOL BRILHA, de Leo.
http://umolharsonhador.blogspot.com

Justificativa: eu pouco sei desse moço. Eu sei que o Blog dele para mim sempre foi um jardim japonês, pela leveza, beleza, cuidados e tratos. Imagens bem escolhidas fazem parceria às conchas que ele cata nas praias do mundo e enfeita os canteiros poéticos.


6. BUTECO DO LUFE, de Lufe.
http://butecodolufe.blogspot.com

Justificativa: se o Blog dele não prestasse, eu simplesmente diria "obrigada pelo selo"e ia embora atrás dos meus eleitos. Mas, o Blog é mescla de informação política, econômica, social, comportamental com piadas, avisos, alertas, risos e lágrimas. Quando lá estou, lendo as publicações e os comentários dele e alheios, sinto-me num buteco de Belo Horizonte, de tão real que tudo é.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

LANGOROSO GOZO



Lânguido

olhar a me perscrutar

na órbita negra fixar

não nego-te

Amacio-te um olhar

Lânguido respirar

a me desnudar

não recuso-te

retribuo sem ar

Lânguido o que penso

tão lânguido e remoto

desejo teso

Lânguidas

promessas a nos tocar

contidas em voo lento de olhar


(LILY, por Suzana Guimarães)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

ESTRANGEIRA LÍNGUA

fotografia, por SCG


As roupas foram saindo de dentro pra fora
Primeiro as menores
Após um tempo curto e roto
Ele alcançou as maiores

As palavras foram saindo de dentro pra fora
de forma benigna
A língua batia diferente
no céu, entre dentes
na boca que ela abria

Os olhos foram mirando de dentro pra fora
um pouco dele
um pouco dela

A bata saiu por último
Antes do bater dos joelhos dele no chão
Antes do som que aquela língua emitia
Antes do entorpecimento da razão

Ele olhava a língua
(que) enrolava-se por dentro, entre risos dela
Ele contemplava
mais que um continente
mais que um rio
um mundo
mais que duas terras

que se encontraram de fora pra dentro

(LILY, por Suzana Guimarães)


 
 
NOTA: Voltarei a escrever aqui, no CONTOS DE LILY. Aqui, as palavras, os textos, a intenção, as emoções, tudo, tudo mais tranquilo. LILY é leve, escreve pouco e não quer saber de cutucar suas próprias feridas e as alheias. Em 2011, com certeza, voltarei a escrever no Blog O MEDO DE SUZANA. Voltarei descansada, refeita, amadurecida... cheia de tapas e beijos. Suzana

domingo, 31 de outubro de 2010

NA DÚVIDA


arquivo pessoal

Ele não sabe se deixa a casa fechada, se deixa a casa aberta

Creio que é melhor engolir a chave

Ela comprou a passagem

Libertou a ave

Creio que deixou a bagagem

Ele alcançou a blindagem

Ela se foi no voo das milhagens

(Suzana Guimarães)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

QUATRO ABÓBORAS ATRÁS

arquivo pessoal

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

SOU BALA




Embalada
Em fita
Desembrulha-me
Encosta-me em teu lábio que dispara

Embala-me
Sou bala
Enfia-me na tua boca
Faz língua tola
Revolva-me
Suga-me 
Raspa-me 
Faz-me sentir à toa


Por Suzana Guimarães


Nota: Texto originalmente publicado no extinto blog "Entre Marés", em 14 de outubro de 2010.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SOBRE SER INSUBSTITUÍVEL OU NÃO

arquivo pessoal
                                         


                                    Dedico este "post" aos meus leitores, principalmente a você que me lê (não apenas os textos), comenta, interpreta, agradece, insinua, pergunta as razões, se faz presente, se faz eterno em minha vida.



Tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto de você(s). Sim, eu sei o tamanho dos laços que vamos criando neste mundo estranho, onde não nos vemos, não nos pegamos, não sentimos cheiros e nem ventos. Sim, tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto. Mas gosto, por isso a agonia.


Agonia, curiosidade, mania, hábito. Vocês pensam que não sei de vocês e eu penso que de mim nada sabem, mas descobri nestes cinco meses de "vida além dos teclados", que somos todos muito espertos, bisbilhotamos, fuçamos, lemos por entrelinhas, sentimos o peso dos dedos nas teclas. Quando penso que vocês nem chegaram perto dos meus sentimentos, vocês ironizam, divertidos, sabendo, revelando minhas verdades...


Tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto de vocês, mas eu não gosto de verbos no subjuntivo. Eu não sei viver subjuntivamente. O mundo não se fez a partir de um verbo tão precário. Desconheço esse tempo verbal, conheço o presente e estico os olhos para tentar planejar ou imaginar o futuro. Então, eu digo: por gostar tanto de vocês, esta minha saída, mesmo que temporária, dói.


Estou aqui para tentar explicar o meu afastamento, inclusive a razão de marcar uma data longínqua para o meu retorno. Meu coração, principalmente ele, e a minha mente não querem que eu me afaste, mas meu corpo exausto e a alma desgostosa gritam para eu parar. Eu preciso me esconder para poder me achar. Preciso organizar os meus armários, dobrar as saias e guardá-las por ordem de serventia ou cor, ou mesmo desfazer-me delas. Preciso polir meu anéis, abrir livros fechados, enfileirar meus sapatos. Preciso brincar no quintal do meu mundo e me ocultar atrás dos lençóis que balançam desinteressadamente ao vento.


Preciso parar de escrever para vocês pedindo um tempo. Cinco meses de "Blogs", quatro pedidos de "break". Certa vez, contaram-me a história de uma louca. Ela fugia todos os dias. E era encontrada todas as vezes no mesmo lugar: em cima do muro do hospício, andando de um lado para o outro. E, se permitissem, de lá não sairia. Ela andava rindo ou cantando, vestida num camisolão, alheia ao mundo, não caía nunca e ia e voltava fielmente, cumpria a jornada do muro. Eu não nasci para isso. Ou pulo de vez para dentro e fico ou ganho a rua.


Nas vezes anteriores em que parei, eu planejava ficar um bom tempo ausente, mas os insubstituíveis chamaram-me de volta e eu voltei. Ao longo da minha vida, ora ouvia dizer que somos substituíveis, ora ouvia dizer que não. Aprendi com elas, com todas as pessoas que cruzaram o meu caminho, que somos insubstituíveis, mas, se quisermos, conseguimos o contrário. São as pessoas que decidem se serão ou não substituíveis na vida da outra. A minha mãe é insubstituível, porque ela quer ser assim na minha vida, ela faz a parte dela, ela se compromete comigo todo o tempo.


Você(s) é insubstituível para mim porque você assim quis e assim age. Você insiste, você quer, você teima. Você me ganha todos os dias, estando você bem ou não, feliz ou não. Você faz questão de estar na minha vida e quer que eu esteja na tua. Não há quem o substitua, você não cede o teu lugar, você se faz presente, você não vive subjuntivamente, você é o momento agora, esse em que me encontrou.


Por isso, eu sofro. Por isso, eu cantei a música "Agonia", do Oswaldo Montenegro no "post" anterior.


Fechei a caixa de comentários, mas o "e-mail" que está no meu perfil é o oficial. Quem quiser me escrever, que o faça, sem melindres. As palavras jamais deixarão meu mundo. Preciso ausentar-me, mas carinho e delicadeza não dispenso em hipótese alguma.


Pouco sei de muita coisa, mas muito sei sobre o tempo delas. Quem sabe esperar aprende a contar o tempo. As palavras aqui se ausentarão, mas as imagens, não. Fazendo questão de ser insubstituível em tua vida, passarei aqui ou aí, na tua casa, e deixarei um pouco do meu cheiro, aquele que só você consegue sentir.


Beijos,


Suzana C. Guimarães


 
Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ilustração, por R.Meneghini




Nota: mesma publicação, na mesma data, em O Medo De Suzana.



domingo, 10 de outubro de 2010

PINTURA NUA EM SIMBIOSE


ilustração, por R.Meneghini

Lindo e irresistível convite

Retenhas-me

na tua retina

Insinuas tu

- a algum bravo, destemido e forte -

que me verás nua

Retenhas minhas mãos

que ousarem fugir

deixe-as vãs

Entrevas tua cara na minha arquitetura

Retenhas-me

Ficção e realidade - misturas.

entre a cortina caída e a pintura

Soltas a moldura

Arrancas tu a tela

Ficção na realidade - misturas.

Bole tu com tinta crua

Para tatuar-te a pele

Entesas tu a mim

no vão das pernas

e a retina - tu pedes.

Rubricas nas minhas costas

com ponta de barba

para que te arranhe os céus - tu fazes.

E em tudo que tu bulas

E em tudo rubro

Paixão desenfreada - demonstras.

Testa tu...
 
Lily e Suzana - tu juntas!

 
 
LU, http://vivaagora.blogspot.com/    &
 
SU/LILY
 
em total SIMBIOSE



P.S.: poesia, tesão e diversão: simbiose perfeita

sábado, 9 de outubro de 2010

PINTURA NUA

ilustração, por R.Meneghini



Retenhas-me

na tua retina

Insinuas tu

que me verás nua

Retenhas minhas mãos

que ousarem fugir

deixe-as vãs

Entrevas tua cara na minha arquitetura

Retenhas-me

entre a cortina caída e a pintura

Soltas a moldura

Arrancas tu a tela

Bole tu com tinta crua

Entesas tu a mim

no vão das pernas

Rubricas nas minhas costas

com ponta de barba

E em tudo que tu bulas

E em tudo rubro

Testa tu...

(Suzana Guimarães)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

PALAVRAS ESPECIAIS PARA VOCÊ


fotografia, por SCG



Sei que você está aí e me lê. Sei que sou seu vício. A cachaça. Um maço de cigarros de uma só vez. A droga. A falta. A abstinência. Você se lembra dela, do veneno quente que rola por dentro das veias? Você sente novamente o calor na garganta, a necessidade, desespero? A falta da água que não é líquida, que não é fluida? A inquietação das suas pernas, o pisar em nuvens malignas?

A inquietação das suas pernas, que o levaram aonde bem quis, inclusive na boca do inferno. No coração dos céus? Até mim.

Sei que você me coloca no colo e me lê. Em cima dessas suas pernas, em cima da cama, em cima da mesa. Posso ver os seus olhos, o brilho ainda vive na minha lembrança. Você ficou assim, lotado de minhas palavras e eu com seus pedaços: suas pernas, tão longas, suas mãos, tão longas... sim, feito o lobo mau. Tantos pedaços que catei e guardei. Seus olhos e aquele pedaço de risada, pequena, leve, rápida.

Sei que você jura não mais me ler, mas cai em tentação, e seu material é frágil (não, não, nem tanto, você pode conter uma enxurrada), mas eu sempre fui a sua tentação.

Sei que você está aí e me lê. E lembra-se de que não viu o capeta, mas me viu. E eu o cortei, em tiras. Até hoje você procura os pedaços deste seu corpo ardido, desta sua alma que não mais tem o sossego da minha. Seus pedaços? Estão comigo.

Sei que você me lê e sente a paz de quando me via. De quando sentia meu cheiro por perto e meus olhos parados em você. Ou fugidios. De você, mais fácil escapar, mais difícil ficar. Mas eu ficava, e deixava-nos girar, você em mim e eu em volta de você, um círculo, um vício. A droga. A faca. Sim, com aquela mesma faca eu o cortei. Eu tive os dois em minhas mãos, lembra-se? Seus olhos apenas, de tão cegos e fumegantes, não puderam ver. Ou você nem se importava.

Mas, hoje você me lê. E se importa, já não pode mais me ouvir, e nem eu ser para você, ouvidos. Ou mesmo a sapiência de tudo que você sempre foi. Eu sempre soube tudo, meu segredo mal revelado, mal escondido. Sabotado.

Você me lê e eu me vejo no direito de lhe perguntar, mesmo não esperando resposta, deixo solta, pega aí: o que você fez com o vazio que ficou? Voltou com a faca para o mesmo lugar? Você só a tem porque eu a tinha. O que você fez com os espaços que eu preenchia, no sofá da sala, na murada, na calçada, lá onde águas corriam silenciosamente? Cortou o pé daquela fruta para me matar de vez? Coitada da fruta, pois eu continuo. E permaneço. E sei que sou agora o seu fantasma.

Você pensa me ver atravessando a rua, correndo para entrar num táxi. Você pensa que o barulho lá fora, sou eu chegando, para a rotina do domingo. Você vê o meu cabelo nos carros que passam. Você se lembra de mim quando sobe naquele pé de fruta que você não cortou. E dorme comigo entre os dedos. Quantas vezes você me tocou, eu, entre seus dedos, no metal dourado que me reflete, quantas vezes você passou o dedo de leve, e recordou?

Você se lembra de que depois rimos de tudo? Sim, eu também ri, em minha solidão, você nunca soube disso. Você se lembra do morro? Da praça? Você ainda come peixe com alcaparras? Ou nunca mais voltou lá? Ou voltou com tantos outros para se machucar?

Pois eu de nada disso me lembro. Eu virei borboleta. Voei para longe e no caminho o lancei aos ventos. Porém, tenho aqui comigo os seus pedaços. Venha! Venha buscá-los. Coragem? Você não a tem. Eu fui a sua maior coragem, eu fui o seu melhor tropeço. Eu fui o melhor de tudo aquilo que você se arrependeu de ter feito.


P.S.: Pensou que eu não lhe deixaria palavras? Sim, essas são suas, especiais para você.

Beijos!
                               
                                                     Suzana Guimarães

domingo, 3 de outubro de 2010

SOL E LUA


ilustração, R.Meneghini
Gabriel é meu primo, ele tem 11 anos. Ele vive muito, muito longe de mim... sinto saudades de quando minha mãe, a Suzana, carregava aqueles meninos todos dentro do carro e eu reinava única, absoluta, idolatrada por eles. Fingia que nem os via, gritava por qualquer coisa, pelo bico que havia caído, por mamadeira, pelo meu bebê de pano ou por nada mesmo, só para vê-los parados, de olhinhos fixos em mim, falando como se eu fosse bebezinha. A verdade é que já nasci mocinha e o que eu queria era apenas que eles parassem de gritar e ficassem a me olhar.

O Gabriel enviou este presente para mim, um poema que fala sobre Sol e Lua, o escuro e a luz.
                                                                                                     
Obrigada, Gabriel! Gosto de ser regida pelo Sol, mas quem me encanta é ela, a Lua.

Beijos,

Lily

  "Sol e Lua.

Duas forças místicas.

Sol brilha.

Lua ilumina.

Juntos formam o Eclipse.

Mas na longa escuridão,

Surge um grande clarão.

O Sol aparece,

Mas logo se põe.

A Lua acorda

Com sua grande iluminação."
 
( G.A.S.G.)
 
 
Quer conhecer o Gabriel? Clica no endereço abaixo:
http://gabstorm-contosdefabulas.blogspot.com

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ELA, A MULHER DO BAÚ E EU

ilustração, R.Meneghini
                                                                               
                                                                                 Suzana C. Guimarães
                                                                                   
                                                                                 (# 1 da saga)

Ela não me via. Quando via, nem reparava. Eu via o copo com dois dedos de açúcar, mais dois de farinha da cor de caramelo e o resto de leite. Ela misturava lentamente e bebia com o dedo mindinho levantado. Eu pensava que tanto açúcar deveria ser para adoçar o corpo, quem sabe a alma também. Depois, ela pegava uma cadeira e se sentava na calçada. Sentava-se ao lado dele e nada falava. Ela fumava cigarro fino, mentolado. Só servia se fosse mentolado. Esperava eu chegar, eu acho. Esperava eu chegar, apontava o dedo para os quadros na parede, próxima à porta que dava para a calçada e dizia que eu nada sabia do que era capaz um homem fazer com uma mulher. Apontava o homem de bigode no quadro e falava sobre a mulher que passava o dia presa pelos cabelos, fechados num baú, até que ele voltasse. Eu olhava para ela. Eu era magra de corpo, porém gorda de inteligência. Eu desdenhava em plena mudez. Ele pedia para ela parar. Ela não parava. Eu olhava a noite, estendia a vista até o rio. O rio escuro que ele tanto olhava, encostado no parapeito da ponte. O que ele tanto olhava? Eu me perguntava. Talvez o nada. Talvez o escuro da solidão. Talvez, a certeza de que aquele rio transbordava e as águas lambiam as portas de sua casa.

Aquela casa. Eu andava nela respirando pó e mistério. Tantos panos encobrindo armas, moedas, segredos. Tantas portas fechadas. Tanta gente circulando naquele corredor que dava no único banheiro da casa. Usar aquele banheiro, um inferno. Sair dele, pior ainda. Passar pelas portas proibidas, "ninguém entra". Tanta gente e ninguém. Era só medo. O medo que empurrava nossas camas para o canto do quarto grande, para que a união das forças vencesse o medo. Casa do silêncio. Casa suja. Conceição passava vassoura, mas parecia que nada fazia. A vassoura ia até o quarto dele e a oficina. Lá, a vassoura parecia limpar. Lá, dava para respirar. Sem mistérios, sem chaves, sem passos lentos, que espiavam as conversas.

Eu deitava e sofria para pegar no sono, meu irmão também, minha mãe também. Eu olhava a luz que vinha da rua atravessando as frestas da janela do quarto. Fixava os olhos naquela pouca luz e pensava na mulher deitada ao lado do baú. Eu não acreditava, mas havia veneno correndo em minhas veias, a partir de então. Eu pensava que aquela casa abriria sua enorme boca e nos engoliria. Eu pensava nas traças que minha mãe varria para fora, antes de fechar a porta do quarto. Ela passava pano molhado... não antes de passar um pano nos meus olhos e ouvidos e me fazer esquecer dos cabelos longos da mulher, com seu vestido que eu nunca havia visto, cheio de rendas, igual falsa prenda.