Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



sábado, 6 de outubro de 2012

MINHA ALMA SEMPRE BUSCOU A TUA

 
Fotografia de SCG
 
Você chegou manso, na mesma lentidão da névoa que cai. Diz palavras que só os olhos revelam e ninguém e nada mais pode traduzir melhor. Eu respiro em miúdo e em disparada pois cada passo teu em direção a mim, assim, tão determinado, bambeia as minhas pernas, desequilibra meu frágil muro de arrimo.

Duas ruas se encontram, uma estreita e florida, outra, larga, longa e seca. Não é a primeira vez que você vem entre névoa densa. Nem será a última. Rosas brancas caem em cachos, nas entradas das casas... da mesma forma, muito tempo atrás, quando os meninos corriam soltos pelos campos e viraram homens e se tornaram pais, tiveram bisnetos, morreram, serviram de adubo às flores...

Silêncio em nossos corações, no peito, saudade antiga que não se entende, pouquíssima visão. Grandes encontros prescindem de grandes ornamentações.

É manhã clara, manhã de festa. Flores renascem todos os dias, você nasceu para mim, eu vim cedo, na correria, na pressa de lhe rever, me fiz flor antes da hora, me perdi nos ventos que sopravam forte, mas eu lhe alcançaria, mesmo que dois séculos se passassem.

Então, vivamos enquanto ainda somos tenros, amanhã retornaremos à terra, seremos adubo, e, no sem fim da vida, caminharemos novamente, uma alma buscando a outra.

Por Suzana Guimarães