Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



domingo, 17 de novembro de 2013

E fica você aí, sorrindo para mim...



E fica você aí, sorrindo para mim, homem dos dias que espero, dias cinzas. Você não sabe, mas por aquela porta pensei inúmeras vezes não passar, nem naquele terreno assentar, nem em seus cabelos bolinar. Dos dias que espero, ninguém nada sabe, seria a terceira noite, e uma certa bruxa velha sorriria. Todos sorririam, seria festa, mas eu não quero. Convidaram-me para sete casamentos, enviaram uma chave, cor marfim, endereçada a mim, hesitei, hesitei, para enfim guardá-la... pela força do hábito, pela constância da busca, por minha eterna insensatez.

E fica você aí, sorrindo para mim, homem dos dias que me ganham, cinzas. 

Mas, é tarde, cansei dos intensos matizes, das bromélias imortais, dos pássaros que decoram o itinerário. O sopro das minhas tolas vontades abrasou a terra seca e também aquele país úmido e cálido. Queimou-se a última tocha, até o fim. Eu sei, fiquei lá para ver, para ter certeza. Sobrou um monte de cinzas, de um outro tipo, que me desgosta, que me retira do caminho.

E fica você aí, sorrindo para mim, em cima dessas cinzas. 


Por Suzana Guimarães