Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



domingo, 24 de agosto de 2014

E, então...


Novamente, venho para dizer que este espaço ficará por algum tempo inativo. Estou escrevendo o meu segundo livro e tudo o que chegar em mim será material para ele. Enfim, irei hibernar.

Obrigada a todos pela leitura.


Um abraço,

Suzana Guimarães


domingo, 10 de agosto de 2014

Ser pedra não pode ser de todo ruim


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)

Porque doem os olhos a visão parca do lampião. E onde pousam esses olhos? Já nem mais sei. São tantos os convites e muito pouca a luz. Caminho meio que embriagada de tanta gente. Em cada uma, menos luz em mim, mais visão. E essa trilha parece não ter fim. Sonho então em voltar pedra. Ser pedra não pode ser de todo ruim. Há tanta gente. Há tanta pedra. Saberei escolher da próxima vez. Uma pedra de algum rochedo, bem distante de qualquer povoado, onde somente passam alguns pequenos animais que em mim, pedra, urinam e coçam suas costas. Melhor que ser gente. Com certeza. Meus olhos pousam nessa ideia, a de ser pedra. Pedras têm poder, rolam para onde querem ou se perfilam eternas. E possuem a visão ampla de um todo que desprezam conhecer. Noite ou dia, tanto faz. Sendo pedra, não perderei nada, nem fuligem, muito menos luz. 

Terei luz que em mim, pedra, tocar, nos dias sem chuvas. Porque doem os olhos a visão parca do lampião. 


Por Suzana Guimarães


Nota: Para Francisco Santos e Maria Socorro de Araújo Lopes.

domingo, 27 de julho de 2014

Quando dei por mim

         
                                                                              Para Franck


Quando dei por mim, já não fazia importância todo o meu gostar por você, simplesmente porque ele era meu, e, assim sendo, eu não dependia mais de si, apenas de mim, para deixá-lo num canto; todo aquele gostar.

Quando dei por mim, aquele imenso amar transformou-se no vazio oco da última chupada no canudo de plástico, quando não há mais suco. Ou houve suco, mas imaginei ser grenadine pura, não líquido insosso.

Quando dei por mim, todos os homens eram os mesmos e mesmos todos os nomes. E eu não mais o distinguia.

Todo aquele gostar era cisma, vontade de mudar o calendário e sua ordem dita e também todas as horas e eu e o mundo, principalmente eu, isso é, vontade de transformar a mim mesma, em qualquer coisa além de ser sempre a mesma, jamais previsível, mas intensamente mutável, porém, bailarina da caixa de música. Sem roteiro, sem programa, sem um caminho, uma trilha.

Quando dei por mim, mal nenhum lhe fiz. Só a mim. Bem ou mal, somente um empurrão, leve toque na figura de rosa, rodopiando naqueles eternos bandolins. Leve empurrão, ela, ao chão. 

Quando dei por mim, criei fé extra: a música para, no entanto, o mesmo leve toque pode rodar a manivela vezes infinitas... 

Quando dei por mim, percebi que amor é pra morrer, no nascimento ou de velho; mas, a música, não.


Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sobre um menino e uma menina...


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)

Um dia, uma menina metida à escritora conheceu um menino que vivia nas nuvens. Em setecentos dias, amaram-se e odiaram-se, tanto, mas tanto, que ficou impossível o convívio. O menino também metido a escritor parou de escrever. A menina continuou. Mas, o menino deixou músicas, esta é uma delas...


Clica aqui!



Suzana Guimarães

segunda-feira, 21 de julho de 2014




No dia em que o senti como fenda aberta e eterna, no dia em que descobri a perda, tornei-me para o mundo múmia. Mumificada, atada, encoberta, vi diante de meus olhos sempre abertos - saiba, é preciso que saiba, quem morre de fome não fecha os olhos - o tempo passando. E ele passou, passaram-se minutos, horas, anos, um sem fim de vidas, um sem fim de nãos, mas eu não cedi. Continuei. Mumificada. 


Mimetizei-me ao mundo que não o entregava a mim. Tornei-me parte dele, por vezes, feliz, por vezes, rancorosa. Mas, fiquei.


Levantar-me-ei, porém, e venho para dizer-lhe isto: esta é a sua última visão. Fica com ela, que sou eu. Guarda-a porque sou eu. Mas, será o último olhar. Amanhã, uma revoada de pássaros beliscará meus cabelos sempre presos e eu partirei, laçada pelo desejo de ser só, porém, ser livre.


Cansou-me a espera. Desataram-se os nós. Soltou-se a última das amarras, caiu por terra um amor mumificado, sempre à espera, angustiado por não saber. Iludido por acreditar. Convencido que o tempo contaria a favor...


Minha efemeridade, meu amor, gritou mais alto. 


Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Sobre o meu tempo


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)

Eu não tenho tempo, que bom que eu não tenho tempo. Eu o faço, todos os dias, porque todos os dias coisinhas me chamam, gritam, clamam por mim. Não tenho alguém para me ajudar - ou, melhor seria, fazer por mim - nas tarefas cotidianas, rotineiras, rasteiras... Tenho dois filhos em idades muito distintas e um é adolescente; o outro é criança ainda. São de sexos e temperamentos diferentes; um é pacífico, é fim de tarde ou manhã solitária na beira da praia; a outra é um vulcão em atividade, bruxinha faceira que ri de mim e me dá nó. Eu não tenho tempo, eu o faço por mim, e nesse movimento, vivo a me perder, perder de mim mesma, contudo, essa perda é fantástica, melhor que embriaguez leve. Eu não tenho tempo porque não o acumulo com coisas que emperram - porque eu tenho pressa - e por sentir algum remorso e necessidade de tampá-las a todo instante. Ou porque vivo a desviar da seta apontada. 

Eu não tenho tempo porque tenho a mim e carrego dois, prazerosamente. Eu não tenho tempo porque as pessoas já não podem mais me iludir ou manipular-me.

Esse tempo, que invento, que é meu, eu o gasto, muito de vez em quando, escrevendo. Eu escrevo porque descobri que decidi viver sozinha, bem escondida, e soltar-me também, claro, aos ventos, ao momento, mas eu misturei tudo. Sou um livro aberto, qualquer um pode me ler, porém, sou um livro sem índice, sem ordem, sem começo, meio e fim, que não lhe dá a chance de distinguir realidade de ficção.

Tudo, simplesmente, porque eu passei a não ter tempo...


Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 26 de junho de 2014

PARA A HORA MARCADA - que só eu vi


(fotografia gentilmente cedida por Daniela Ferreira)



(Para Douglas Zílio Coutinho)


A queda tinha hora marcada, seria na quinta-feira, ao meio-dia em ponto. Besuntei-me de um óleo qualquer, debaixo de sol, recitando suas últimas promessas, e você seria meu bruxo e eu, sua predileta. O abismo se abria com as horas, eu o chamava e ouvia o eco, já não sabia mais quem gritava por quem. Ah, meu bruxo, não me detém neste escuro que o embala, feito presente pra mim, este riso que diz, que diz me morderá... e eu me farei passiva, solícita, para no alto do meio do dia abocanhá-lo, sufocá-lo, enroscar a cobra que arde em mim, toda, lambuzada de ontem, do dia prometido, em você. 

Caminho devagarinho e vou ouvindo sua vontade de ler cada linha na minha pele marcada, cada traço que você não viu fazer.

Venha, meu bruxo, venha, é noite. Ofereça-me seu melhor aguardente e em troca eu lhe darei fel a lhe enroscar do pescoço ao ventre. Você me olha com olhos de gula; eu o olho com olhos de quem já o bebeu. 

Venha antes que amanheça e de você, eu já seja íntima. Venha rápido. 

Abismos gostam da estranheza. Sejamos amantes antes de amigos, os espelhos só refletem as ilusões. Todo o resto é quimera. Todo o resto é raso demais para nossa fome.




Por Suzana Guimarães

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Inventário


Imagem gentilmente cedida por Iracema Buscacio

Todos os amores são maiores que eu. Todas as histórias de amor ganham de mim. Todo o amor do outro brilha mais que meus opacos olhos, quase cegados por minha insanidade. Arranha-céus de amor, genuínos, verdadeiros; eu, um pedaço de quebrada de esquina, sob luz baixa, daquelas amareladas, daquelas decrépitas cidades das velhas, das órfãs, das preteridas, onde pousam moscas e aqueles cisquinhos que voam do asfalto. Eu, sempre, no final das contas, nada. Infeliz de mim que ouvi sem ter escutado, e, por isso, condenada por infinita gama de pecados que jamais cometi. Paguei pelo canto que outros cantaram.

Desinfeliz de mim que cri. Esperei debaixo de chuva pouca, ouvindo passos toscos, contando-os, fechando os olhos para os já possuir. Somente meus. E nada. E novamente outra chuva, mesma esquina, mesmas lembranças à meia-luz e, de novo, ouvindo sons, respirando-os, junto com cheiro de asfalto e fumo estragado. Estragado e velho.

Todos os amores sempre foram melhores que eu. E suas histórias. E de todos os pecados, o mais grave deles foi acreditar nisso, na beleza dos amores deles. Que nunca existiram. 


Por Suzana Guimarães

sexta-feira, 13 de junho de 2014

NA PRAÇA

(Desenho a lápis por Ana Maria B. C. Guimarães)

Na praça, ela sentou-se à minha direita. Falou, "Sem dente!". Nem olhei para ela, mas lembrei-me da extração de um siso dias atrás. Não havia inchaço em meu rosto. O sol batia em seu rosto avermelhado, eu me protegia com um chapéu. Contou-me de seus desamores: um tinha o dedinho do pé, o menor de todos eles, encurvado para cima. Ela olhava aquele dedo sempre, em todos os lugares, no chão, na cama, na dobra de um olhar descuidado. Outro, parecia um macaco, corpo de macaco, jeito de macaco, branco, de olhos verdes. O mais sexuado de todos cuspia enquanto falava, por isso, por anos, ela carregou uma sombrinha. À noite, quando se deitava, claro, fechava a sombrinha, mas o dia todo era para pensar só no incômodo. Hoje, não carrega mais. Por isso, o sol castigando o rosto, castiga, castiga, dizia. Cismou em falar de sua vulva, com ela, xingava os passantes. Sentei-me um pouco mais para a ponta do banco.

Ela disse-me que todos eles, sem saltar um, todos eles tinham alguma coisa a mais ou a menos, que parecia realçar, alguma coisa feia, alguma coisa fora do que ela gostaria que fosse. Muito corpo, pouco corpo. Muito cabelo, careca formato "bola de cristal". 

Então, ela pegava a sua vulva e xingava o mundo, segurando-a entre as saias do vestido. Agarrava com os dedos e tentava elevá-la.

Ela questionou-me, "Não haveria um só, pelo menos um, que ela olhasse de cabo a rabo e se sentisse satisfeita?"

Não tinha ilusões, exceto um sabugo de milho na bolsa, disse. 

Haveria de existir neste raio de mundo sem fim um homem que não cheirasse a outro homem, que não fosse sempre alguma coisa a faltar ou a sobrar? Um homem sem necessidade de interpretação, puro, raso, o suficiente. Para ela, o que bastava era olhar e não se deparar com coisa alguma que tivesse que desviar, esse seria o suficiente.

Na praça, ela sentou-se mais para perto de mim. Estendi o olhar. Vi lá longe pessoas passando. Enorme miopia emocional tomou-me de assalto. Sim, eu era "sem dente".

Por Suzana Guimarães

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

CONTOS DE LILY para aqui, sem data prevista para retorno

( Meu livro: Dolores Crônicas)


"Será fácil explicar a força dum tornado, a solidez duma gota de chuva? (...) – Talvez que alguns, os uns o possam afirmar que sim, os outros que não e ainda uns quantos nadas, como este, que não explicam, não sabem como explicar nem o pretendem: à escrita, à palavra que se faz vida, morte e ressurreição na sua escrita não se deve procurar pelo entendimento dos comuns… ou não fosse Suzana Guimarães um extraordinário e singular ser que em si já transportou a maternidade, esse princípio e encerrar de mundos, escritos e por escrever. A sua escrita não se explica; arrebata como só o acontece a quem domina as mais límpidas e violentas emoções dentro da mais ínfima das palavras. (...) nas palavras de Suzana Guimarães não existem jogos de espelhos, sombras artificiais, abrigos temporários – instigante e contundente, o tanto-quanto pura e delicada, Suzana Guimarães entrega-nos por este e neste livro que “é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”, a vida, como todos os livros deveriam entregar… (...)". Por Breve Leonardo, em "Dolores Crônicas".

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

dOloreS CRÔNICAS

(Meu livro)

Meu livro está disponível no www.Amazon.com para e-books ou www.Lulu.com para livros impressos. E também no www.amazon.com.br



Nota: No Amazon.com e no Lulu.com há um retângulo no alto da página. Digita: Dolores Crônicas e clica em GO ou IR. E o livro irá aparecer.

Links diretos:

http://www.lulu.com/shop/suzana-guimar%C3%A3es/dolores-cr%C3%B4nicas/paperback/product-21441581.html

http://www.amazon.com/Dolores-Cr%C3%B4nicas-Portuguese-Edition-Meneghini-ebook/dp/B00ICC4C2K/ref=sr_1_2?ie=UTF8&qid=1392074561&sr=8-2&keywords=dolores+cronicas

http://www.amazon.com.br/s/ref=nb_sb_noss?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&url=search-alias%3Daps&field-keywords=dolores%20cronicas


Para quem não tem o kindle

No site do Amazon, onde você compra o livro virtual, também tem um ícone onde se pode baixar um app (aplicativo, software) GRÁTIS para o seu PC, Android, iPhone, iPad etc. Com esse App você pode ler o livro em seu aparelho eletrônico seja ele qual for com a maior facilidade e conforto!



domingo, 2 de fevereiro de 2014

"Sou todos os cantos em que seu machucado irá bater". Uma das crônicas do meu livro.

(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Prometi uma surpresa para fevereiro, é meu livro de crônicas. Setenta crônicas, dentre elas, algumas já postadas nos meus blogs nos últimos três anos, porém, revisadas, e também inéditas. Será um E-book. O idealizador do projeto é Roberto Meneghini. Definimos que ele seria publicado assim que entrasse fevereiro, mas eu inventei de escrever um pouco mais... o que seria cinquenta virou setenta... um número, o sete, que, particularmente, detesto. Aí você pergunta: "Se detesta, por que assim será?". Também não gosto de ler no computador. E também dizia que eu só escreveria em papel e hoje só escrevo no meu laptop. Por que será? Porque a gente vai deixando de lado muitas tolices e vai aprendendo que o importante nem sempre vem rico em detalhes. Então, se ele for publicado em fevereiro, ainda estaremos no mês, não é? E ainda estou cometendo o pecado de revisar eu mesma... Beijo!



Suzana Guimarães

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

HASTA LA VISTA!


Suzana Guimarães (arquivo pessoal)


Vim correndo só para dizer, estarei ausente por todo o mês de janeiro, mas desta vez é por uma boa causa.
Tenho uma novidade para fevereiro.

Hasta la vista!

Suzana Guimarães