Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quinta-feira, 7 de maio de 2015

Quase pouco...

by suzana guimarães

E hoje sou feliz e nem tanto. Desconheço bipolaridades, tudo é e ao mesmo tempo não, quase no mesmo instante um quase dia de diferença que nunca completará as horas porque a cada hora sou feliz e triste. Sou rei de um único principado e nele só há um rio que nunca levará n`algum oceano e ele e eu somos um só quando mergulho em suas águas e me vejo tão rei e tão nu... porque hoje sou feliz e nem tanto e nenhum homem pode me deter e me matar, mas uma única criança é capaz de levar consigo todas as minhas riquezas, meus tesouros escondidos, e, debochada, me avistar ao longe, e me acenar de longe, satisfeita por poder me matar, só ela e nada mais e mais ninguém.​

A vida de um rei que tem um único principado desenhado num mapa de desvios e atalhos, cortado pelo único e estéril rio - esse, que nunca porém o iludirá, pois é só isso e é tudo -, onde linhas divisórias são quase nulas, mas segredam o desejo do desespero: atirar-se do alto é o sonho desse rei que sou eu e que leva consigo uma criança que pode matar.

Ó caminhos desvairados! Ó vida rica de pobrezas, eu sempre serei assim, feliz um tanto e ardida noutro? 

Nunca desejei esse reino, o rio, e a criança. Nunca desejei ser eu. Sonhei com voos silenciosos, insignificantes, que ninguém vê, que ninguém quer, que ninguém aspira. Sonhei apenas em ser ínfima!


Suzana Guimarães