Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Porque não são pássaros! (#1)


(Fotografia gentilmente cedida por Daniela Ferreira)


Sou um pássaro cego que gosta do voo, 
apesar de preservar o ninho. 
Pouso muito pouco, somente o necessário para parecer deste mundo. 


Poucas pessoas gostam disso... 


Sou um pássaro cego que gosta do voo noturno ou de quando começa a se fazer noite
Gosto de sentir através - unicamente através - das minhas próprias asas...
e do vento que bate e do silêncio que canta...


Só os cegos sabem disso...


Meu ritmo, porém, é alucinógeno...


Poucas pessoas gostam disso... alucinadamente eu saboreio o nada, sinto ferver em mim todas as coisas passadas, presentes e futuras...
sinto as ondas quentes e frias
sinto o verdadeiro gozo


Porque, na cegueira, vejo todo o fundo. 
Poucas pessoas gostam disso. Porque não são pássaros!


Suzana Guimarães