Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



domingo, 17 de janeiro de 2016

"(...) Pouso muito pouco, somente o necessário para parecer deste mundo." (série PÁSSAROS # 6)



(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)



E me olhou com cara de desejo sério...

Deixou-se ser olhado dos pés à cabeça; passando pelos braços, na camisa manga longa azul claro, de listras finas... Mãos muito brancas. Andou de forma lenta, para ser olhado, frente e costas. Deixou ser percorrido e eu me deixei percorrer, sem tumulto, assalto e pudores. Meus olhos o devoraram e ele viu... Embora exausta do deserto.

Rosto em ângulo, cor e traços perfeitos para mim. Talvez o mesmo para ele.  

Havia alguma coisa de sabemos para onde queremos ir. O traço final de um esboço bem acabado.

Já era tarde e eu já era só cansaço quando, ao partir, voltei meus olhos pela última vez, e o vi, esperando que eu assim fizesse, voltasse os olhos, o corpo e novamente o reconhecesse. E, ele, lá, encostado à parede, olhou-me com cara de desejo sério. Amém.


Suzana Guimarães


Nota: SOBRE POUSOS dedico a Italo Morelli.