Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



sábado, 27 de maio de 2017


Não há mais céus que abaixam e elevam-me, muito menos alguma coisa a mais, um olhar, uma passada, algum calor desobediente.

Há somente a estrada a seguir. Pede-se elegância e abstração. O resto todo é morte.

Poderia ser ruim, se fosse em um mundo barulhento e populoso... poderia ser, mas não é.

O sossego é meu irmão, meu pai e companheiro. Sou só, mas completa. Sou rica. Possuo vários mundos em um só e por eles caminho.

Ninguém poderá dizer que não falei sobre águas e amor.

Ninguém poderá dizer que eu nunca tentei.


Suzana Guimarães 

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Fervendo em seu mundo novo


Imagino-o por aí - esse outro planeta que você criou, ha, ha!, bem melhor que seu antigo reino tamanho de uma birosca! Imagino-o por aí, fervendo como ferviam meus 'Sais de Fruta', isso realmente me faz rir!; fervendo como as formiguinhas que eu gostava de cutucar e apreciar... fervendo como o leite, que derramava no fogão quando eu desviava o olhar.


Fervendo. 


Imagino-o tentando ouvir o silêncio, tentando decifrar sinais, buscando o 'own'... Quase em vão...

Vejo-o como deveria ser e é. Eu diria, "Sossega, para com isso!". Eu diria assim para o que eu tinha certeza? Não. 

Roda, apreende, reconhece, vê! Roda, caminha, mas saiba que no peito impossível sossegar o tambor. E isso é finito?

Nesse seu planeta, talvez o silêncio o alcance - é ele quem o procura e chama e não o contrário... aprende a recebê-lo: 

Repita infinita vezes uma frase de duas palavras, repita, repita, repita, repita... E então, aí, você não ferverá.



Suzana Guimarães

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Já fui sol


Já fui sol e não sabia. Ardi seus olhos e sua pele. Queimei em você sem dó... porque eu queria, porque ninguém mais fazia. Tantos e tantas que por você passaram e em você ficaram num correr de anos sem piedade - o tempo é mais cruel que eu! -, e muito pouco fizeram ou mesmo nada quiseram... Para despertar o que ardia em segredo, no escrutínio do seu peito; mas eu não sabia, apenas sentia e isso é tudo.

Ardi em dois tempos, em bem menos que quatro mil dias, em bem menos que o todo de uma vida. 

Já fui sol e não sabia. Já quis ser voo cego ao precipício, fingindo ser pássaro; já quis ser morte, e também clausura, catedral antiga, eu só quis...

Você agora é lado de fora, externo, natural. Eu sou quase a mesma, não mais solar, porém... sou planície prata; noturna em pleno dia, sou a continuação do que eu sempre fui. Sou pausa.