Ilustração por

Sobre contos e pespontos

Entre um conto e outro, alguns pespontos. Preciso dos pespontos para manter o principal equilibrado e firme. Preciso todo o tempo... Aprendi a pespontar quando a minha mãe me ensinou a fazer flores. Não, não se aprende a pespontar quando se faz flores. Essas apenas me lembram a minha mãe que me ensinou a pespontar os arranjos que a vida nos dá.



quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O louco

fotografia scg


Quanto mais andou, mais enlouqueceu. Então, não pararia mais. Seguiria. A loucura estava na lembrança dos dias perfeitos. Quanto mais enxergava aqueles dias e noites e aquelas noites e dias ajustados, fotografados na retina da alma, embrulhados para um futuro que nunca viria, que nunca veio, tempo que nunca existiu de verdade, mais endoidava. De verdade, agora, um chão sem fim porque a desgraça é lembrar que não andou. Agora, sim, iria endoidar de vez, mas com razão. E chão e mais chão, tombou a boca, sorveu o pó, humanizou-se. 

Ó, Deus, por que muitos só aprendem pela dor? 

Ó, Deus, eles realmente aprendem?

É noite, algumas crianças fazem uma roda, sorrindo. E assim lhe dão as mãos. Quem sabe, talvez o pó se torne alimento. As crianças sabem para onde vão...

para lugar nenhum, lugar sagrado de Deus, o coração do amor.


Suzana Guimarães